quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Carta Aberta Ao Senhor Barão


Caro Senhor Barão Amante das Gaivotas:

me perdoe a intromissão no vosso tempo tão concorrido e ocupado pela belíssima missão de vossa Senhoria em alimentar todas as gaivotas da Costa Norte do Antigo Reino dos Colossos Colossais mas prometo que serei breve. Não posso deixar de dirigir-lhe algumas abissais impressões à cerca da minha humilde passagem em terras inseridas dentro da fronteira do vosso Condado.

Hoje resolvi, ao longo de toda a tarde, dedicar-me à humilde tarefa de fazer as sardinhas voarem. Juntei alguns pimentos e um punhado de batatas cozidas e protei-me na frente de um arpoador. Pra meu espanto todas fizeram fila ao perceber a movimentação. De fato a ciência da domesticação das sardinhas evoluiu de forma impressionante, deixando para trás outras ciências que julgava mais desenvolvidas tais como a de bater pregos em pães ou a produção de favaítos dançantes ao longo do Rio Douro.

Sinto-me extremamente surpreendido ao perceber que o empurrão de turcos resididos ao longo da linha do comboio central ecoam de forma mais presente do que daqueles da mesma nação localizados fora da linha do mesmo comboio. Será alguma espécie de fortificante trazido pelo consumo diário de couves? Ou simplismente a diferenciação do arqueduto que leva a água aquela determinada população? Não posso precisar mas até hoje o vento produzido pelo "abraço nada convencional" ecoa em meus tímpanos.

Mesmo que de forma malfadada devo admitir, também, o meu espanto ocorrido pela modificação da minha rotina de limpeza capilar. Após minha estadia no seu belo e terrível reino observei que piolhos e lendias não mais me incomodam. Crio, com uma alegria rotineira, pulgas e culpas dentro do sapateiro do meu quarto, já que almejo por uma privacidade nas coisas que mais admiro.

Na esfera gastronômica visualizei o tipo ideal de dieta que construí durante toda a vida e que nunca consegui, efetivamente, construir a ponte entre a metafísica e a empiria: a solução do terraço é sempre poética e de uma amplitude inexplicável. Até porque quando se toca uma campainha e não se escuta o findar da refeição podemos pensar que na verdade ela ainda não começou e que, por esse mesmo motivo, não temos que varrer a casa ou que receber o carteiro.

Para terminar (já que prometi ser breve), as jangadas que desfilam ao longo das principais avenidas são, para além do charme, o encontro entre o conforto do transporte coletivo e o diálogo entre o futuro e o passado já que nos sentimos como o velho e bom vinho do Porto, transportados para envelhecer.

Muito admiro tal Condado e anseio a possibilidade de recebê-lo em terras tão humildes, dado a magnitude de todas as montanhas, aldeias e tremoços saltitantes em cada cabeça cidadã de seu lar. Que o vosso lar prospere com a ajuda do Nosso Senhor louvado e idolatrado António Variações, aquele que perdeu a cabeça por vós e que até hoje possui o corpo à espera da redenção.

Com os melhores cumprimentos,

Barão Suburbano Maletta.

Sub Reino Vermelho Ao Leste, Província perdida ao lado da cachoeira, membro honorário da Ceita da Madrugada.

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