terça-feira, 21 de abril de 2020

Parada

Passo longas horas deitada. Quando limpo a casa, faço o almoço ou ponho minhas mãos na terra da horta, estou deitada na cama. O estado de inércia não é externo, ele se constrói a partir do não humor para qualquer comunicação. Quero estar só, e ver os frutos do abacateiro da minha janela tornarem-se podres, forçados pelas semanas de descado do contato com a grama. Não tenho ânimo nem para parágrafos. Separá-los seria uma organização do pensamento, que agora me sai apenas como preenchimento do espaço na estética mais primária possível. A sede me pede copo. A fome me pede urgência e eu me emponho latidos agudos, irritantes, constantes. Escuto tudo e nada faço, façam vocês todos. Estou vivendo a angústia de não ter fim, o estranho desejo de querer saber do limite... Entretanto, dizem-me: não se sabe nada, não se sabe nada. Chamam-me agora. Vou deitada, virando os olhos para evitar o sorriso.

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