A genialidade de ouvir
Escutei, outro dia, uma definição muito interessante sobre o que é um gênio. Me disseram que gênio é a pessoa que se abre a inteligência universal. A princípio estranhei: onde está o indivíduo então? Na troca, no acesso com a sabedoria que existe no mundo espiritual que vai muito além da nossa ínfima compreensão (não entendemos sequer a natureza quanto mais aquilo que não alcançamos racionalmente). Se a inspiração é solução soprada pela espiritualidade, quem se propõe a construir pontes de diálogos constante com outras esferas ganha a cada pensamento, mantendo-se numa sintonia mais elevada e buscando a evolução nos pequenos conceitos diários.
Meu ego saltou quando comecei a sentir que tem muito menos de mim em vários processos criativos do que imaginava (como nesse texto, por exemplo). Ontem, ao realizar uma leitura dramática no Festival de Teatro de Tiradentes, tive a comprovação empírica de tal. Me conectei com meus mentores antes de entrar em cena, estava muito cansada e a personagem me exige uma disposição e atenção física durante toda a leitura. De forma tranquila e consciente fui sendo levada a experimentar sensações e sentimentos nunca vivenciados naquele texto. Chorei de verdade, tremi, gaguejei e sorri como se fosse apenas um material de troca entre a dramaturga, a platéia e uma outra dimensão que se expressava em mim, por falta de suporte melhor.
De qualquer forma foi maravilhoso sentir a ampliação das minhas fronteiras e vivenciar a experiência de que minha vida não é só minha, muito menos só para mim. O que poderia ter sido um surto psicótico ou um conflito narcísico aguçado pela exaltação ao eu, transformou-se num êxtase confirmando o infinito do teatro e da arte de representar com todo o coração e respeito a quem cuida de nós sem que saibamos quem sejam. Aos deuses do teatro o meu amor e gratidão eternos.
Um comentário:
Tenho o privilégio de conviver com artistas assim, questionadores até o limite de suas possibilidades sensoriais. Você Ana Gusmão, ao lado de, peço licença para citar Malu Aires, são duas das artistas mais íntegras e honestas em suas expressões. Penso que a maior fronteira, sempre é construída por nós mesmos, quando tememos questionar. Você está muito distante deste limite fronteiriço. Você ousa. E ousadia talvez seja a primeira reverência que devemos à Arte.
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