domingo, 1 de junho de 2014

Na Inocência de um Delírio


Desculpem: não presto.

Adoro furar sinais, só pelo simples prazer de acelerar o carro e fazer algo errado, bem errado.  Gosto de coisas rápidas, rápidas, que me arrebatam e chegam e passam que eu nem percebo e muito menos me canso delas. Oh desculpem mas já tive muitos dias felizes na minha vida. Sorrio apenas com o lado direito da boca e me sinto malvada com todas as culpas do mundo. Compartilho delas mas hoje quero esquecê-las, a todas que me fazem acordar de madrugada e teimam em me lembrar que não escovei os dentes antes de cair na cama, bêbada de um vinho que não paguei. E me imagino crooner de uma banda finlandesa de amputados em Angola, cantando um rock de quinta categoria para a burguesia fingidamente cega a miséria do explícito na esquina, de vestido dourado, errando todas as letras e cuspindo, de forma muito sensual, no palco que não me pertence. Que alegria ingênua em dirigir meu carro sozinha pela madrugada na certeza de que polícia nenhuma dá conta do meu delírio. Faço o que quero no meu reino de marchas, dois cavalos guiados pela direita e pela esquerda, passado e futuro, itens de um sujeito confuso mas em pleno movimento, exatamente como deve ser, exatamente como sou. Sorrio na palestra profunda da moralidade mais fascista que já vi. São lindos, todos de plástico. Sou da expectativa. Mesmo porque não sei o que esperar de algo que mau sei olhar, que mau sei o que é e dá um fogo em mim que me faz cosquinhas de perder o rumo. Fico criança, fico ridícula, fico assim como uma cachorrinha correndo atrás da irmã do dono. Atenção para o novinho, para o pequenininho, para o bobinho, o que me escapa sempre porque aparece só lá no fim da fila, quando já estou cansada. Começo agora pelo fim, nova regra do sorriso que me espera tímido e sem jeito, com vontade de nascer não se sabe como. E meu desejo de caçar por aí, incoerente e passageira, acelerando, me faz relaxar com os parâmetros construídos duramente pela minha família e incoerente comigo mesma me traio com muito prazer. O meu maior prazer é me trair, evoluo assim.

Durmo bem e acordo com dor na garganta, numa glândula do lado esquerdo que ao longo do dia melhora. Coisas estranhas acontecem quando estamos dormindo, somos nós mas não temos nós.

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