Desculpem: não
presto.
Adoro furar sinais,
só pelo simples prazer de acelerar o carro e fazer algo errado, bem
errado. Gosto de coisas rápidas,
rápidas, que me arrebatam e chegam e passam que eu nem percebo e muito menos me
canso delas. Oh desculpem mas já tive muitos dias felizes na minha vida. Sorrio
apenas com o lado direito da boca e me sinto malvada com todas as culpas do
mundo. Compartilho delas mas hoje quero esquecê-las, a todas que me fazem
acordar de madrugada e teimam em me lembrar que não escovei os dentes antes de
cair na cama, bêbada de um vinho que não paguei. E me imagino crooner de uma
banda finlandesa de amputados em Angola, cantando um rock de quinta categoria
para a burguesia fingidamente cega a miséria do explícito na esquina, de
vestido dourado, errando todas as letras e cuspindo, de forma muito sensual, no
palco que não me pertence. Que alegria ingênua em dirigir meu carro sozinha
pela madrugada na certeza de que polícia nenhuma dá conta do meu delírio. Faço
o que quero no meu reino de marchas, dois cavalos guiados pela direita e pela
esquerda, passado e futuro, itens de um sujeito confuso mas em pleno movimento,
exatamente como deve ser, exatamente como sou. Sorrio na palestra profunda da
moralidade mais fascista que já vi. São lindos, todos de plástico. Sou da
expectativa. Mesmo porque não sei o que esperar de algo que mau sei olhar, que
mau sei o que é e dá um fogo em mim que me faz cosquinhas de perder o rumo.
Fico criança, fico ridícula, fico assim como uma cachorrinha correndo atrás da
irmã do dono. Atenção para o novinho, para o pequenininho, para o bobinho, o
que me escapa sempre porque aparece só lá no fim da fila, quando já estou
cansada. Começo agora pelo fim, nova regra do sorriso que me espera tímido e
sem jeito, com vontade de nascer não se sabe como. E meu desejo de caçar por
aí, incoerente e passageira, acelerando, me faz relaxar com os parâmetros
construídos duramente pela minha família e incoerente comigo mesma me traio com
muito prazer. O meu maior prazer é me trair, evoluo assim.
Durmo bem e acordo
com dor na garganta, numa glândula do lado esquerdo que ao longo do dia
melhora. Coisas estranhas acontecem quando estamos dormindo, somos nós mas não
temos nós.
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