Presa na política do tarot
Mais uma vez escrevo sobre você que não conheço. E me sinto
como os dominicanos Betto, Fernando, Ivo ou Tito, que pela arbitragem do
destino almejam a liberdade a cada dia vivido sem o ir incerto em cada caminho
ditado pelo desconhecido. Escuto falar de você e seguro para não me levar ao
desespero, como o conceito ensinado pelos citados acima acerca da liberdade.
O amor é a liberdade na incerteza. Me sinto só e revoltada
porque sei que você vai chegar de dezembro a março, como o fim da pena de um
preso político que almejou apenas o bem do outro, como sonho com nossos
encontros onde só te quero bem. E seguro minha revolta que se expande em cenas
de torturas e noites não dormidas, renegadas pelo desejo simples de reivindicar
aquilo que um dia será meu. Como o conceito de mudança de presídio, onde saio
de um relacionamento e me encaixo em outro. De Presídio
Tirandentes a Penitenciária do Estado ou, quem sabe, Carandiru.
Se uso a radicalidade dessa metáfora é porque me sinto presa
a tal solidão, como cela forte naquela época, onde o isolamento se fazia
contraditório a todo movimento tão perto e, entretanto, distanciado pelas
paredes do tempo em que não te encontro. E vivo a injustiça, um pedacinho que
esses lindos homens viveram contra o regime ditatorial (e tenho certeza, se
tivesse nascido nessa época provavelmente não escreveria mais nada).
O sonho é a liberdade, e é esse o meu alicerce. Agora tenho
um tempo, agora tenho uma idade indefinida, depois tenho uma geografia e
proibições que me servem como guia. Apenas me revolto com esses meses pesados,
como prisioneira política mesmo, onde não dialogo com meu fardo de existir
naquilo que eu mesma defini antes de aqui estar.
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