sábado, 31 de outubro de 2009

Acho que não vou mais te ligar. Quando senti que era pra sempre e sei que você também sentiu eu pensei que fosse mesmo verdade. Mas essa tal da distância acaba com tudo. Cheguei e logo te mandei um cartão postal e pensei que antes de te mandar eu já ia receber um seu mas não tenho nada seu até hoje, quase um ano depois. Não vou mais te ligar bêbada ou quando consigo um emprego. E pare de me tratar bem, não quero que você me trate bem. Nossa amizade está resumida ao seu pen drive e a garrafa de favaíto que está no quarto da minha irmã e que um dia eu vou fazer questão de beber mesmo sem gelar.
Não sei se volto no seu país, não sei mais se quero voltar. E sei que o erro foi todo meu, que eu amo demais mesmo e logo quero instaurar um latifúndio no meu pescoço pra gente sempre conversar, fico mesmo querendo criar gaivotas de verdade. Mas você não precisa de criar gaivotas, você já as tem no seu terraço.
Meu erro é querer gaivotas no lugar de pardais. Devo almejar o cinza e marrom das penas daqueles que entram na minha casa, não o peixe no bico dos que voam.
Achei que era mesmo de verdade e acho que era mas essa nossa mania de pensar que somos importantes para o outro é mesmo ridícula e duradoura. Que somos insubstituíveis, que somos singulares e sempre amados. Podemos mesmo até ser, mas só até a vizinha de baixo se mudar e chegar uma outra mais interessante, que seja até sua colega de profissão. Aprendi a respeitar o tempo de cada um mas ainda não sei perder. É como se o jogo que começamos tivesse mudado as regras muito rapidamente, não percebi o momento e fiquei jogando sozinha, suspensa no ar, esperando a corda bater no chão para pular novamente. Acabei de apagar seu telefone. Ficamos assim, no silêncio do presente esperando algum descuido da lembrança do passado cobiçado.