Me sinto tão perdida que pareço surda.
Surda como uma criança dentro de um trem fantasma.
Surda como um ator atrás da porta, na coxia, tentando ouvir a deixa para entrar em cena.
Surda como um pato.
Como um ato sem repercussão.
Como o vendendor na hora da demissão.
Como Exu na hora de ir embora da festa.
Surda com os cílios colados na pele que recobre os olhos.
Como a campainha sem bateria, como o celular sem bateria, como o corpo sem bateria.
Tantas ruas para atravessar e nenhum carro para me dar carona.
Sim, quero um carro meu mas também quero uma carona.
Surda pra buzina do carro que quase me atropela.
Como a faixa de pedestres involuntária no meio da rua, cravada contra a vontade própria.
Queria ser surda como Beethoven...
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