segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Audison



Me sinto tão perdida que pareço surda.
Surda como uma criança dentro de um trem fantasma.
Surda como um ator atrás da porta, na coxia, tentando ouvir a deixa para entrar em cena.
Surda como um pato.
Como um ato sem repercussão.
Como o vendendor na hora da demissão.
Como Exu na hora de ir embora da festa.
Surda com os cílios colados na pele que recobre os olhos.
Como a campainha sem bateria, como o celular sem bateria, como o corpo sem bateria.
Tantas ruas para atravessar e nenhum carro para me dar carona.
Sim, quero um carro meu mas também quero uma carona.
Surda pra buzina do carro que quase me atropela.
Como a faixa de pedestres involuntária no meio da rua, cravada contra a vontade própria.
Queria ser surda como Beethoven...

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